sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Cresce o património, cresce o nosso atraso

Sabemos que a compra da Quinta de Antepaço de Baixo está, de alguma forma, legitimada pelo P.D.M. mas também que este documento muitas vezes para nada serve.
Um parque de campismo também é um equipamento necessário mas não tem que ser um equipamento municipal, cuja construção e manutenção tenha que ser paga por todos, para benefício quase único dos forasteiros.
A solução deveria ser a Câmara proibir o campismo selvagem nas margens do Rio Lima e incentivar algum particular ou organização a montar e explorar este tipo de equipamento.
Além disto esta Quinta de Antepaço de Baixo não tem as condições de outros locais incluídos no P.D.M. na mesma zona de intervenção ou na posse da Câmara. Como se viu nas recentes cheias, qualquer gracinha do Rio Labruja a inunda e encharca a Quinta por tempo sem fim.
A compra desta Quinta aparece como um investimento na freguesia de Arcozelo, quando sabemos que serve antes para lhe retirar qualquer pretensão de ter um desenvolvimento apropriado e com autonomia.
Com esta Câmara jamais Arcozelo levará o safanão que a retire do seu pacatez, de ser um emaranhado de lúgubres caminhos, uma terra sem centralidade, atravessada por todos a seu belo prazer, sem estruturas viárias próprias, que a Câmara só se preocupa com aquilo que da Vila se vê.
Mas com certeza que não é só Arcozelo que necessita que para ela se olhe. A Ponte de Lima faltam pequenos centros urbanos com equipamentos de qualidade que permitam a instalação de novos serviços, novo comércio e centro cívicos e de convívio que não sejam só os destinados a encaixotar-nos quando velhos e caquécticos, incapazes já de dizer coisa com coisa.
A juventude tem de ter onde se encontrar. Os homens têm de ter onde conversar e por que não discutir, coisa de que hoje já todos temos vergonha. Desenvolver o espaço público é desenvolver a democracia. Encontrarmo-nos com os outros, com os vizinhos nas casas comerciais, nos serviços públicos, vale muito mais que encontramo-nos com a Merche ou o Malato via televisão. Vivamos com os pés na Terra.
Nesta Terra, um pouco como noutras deste Portugal mediático, está-se a olhar mais para o acessório, para o supérfluo e o essencial fica por fazer, escondido pelos biombos. Em Arcozelo já há uma barreira.
É como aquelas senhoras que, para não terem trabalho, enviam o lixo para baixo dos móveis e parece que têm a casa limpa. À noite, depois de afastadas as câmara de televisão, de apagadas as luzes dos projectores, de idos os romeiros, as baratas escondidas no lixo tomam conta do sítio.
Nós estamos aqui para defender Ponte de Lima, atacando esta política de cara lavada, de cara mascarada de cosméticos, prejudicial para os interesses dos Limianos e mais uma vez me recuso a dar o aval à compra de património com objectivos mal definidos.

Obs: Intervenção para o ponto d) da Ordem do Dia da sessão da Assembleia Municipal de Ponde de Lima de 15 de Dezembro de 2006.

Multiusos e outras incertezas orçamentadas

Chegamos facilmente à constatação que nestas opções do plano são mais as incertezas do que as certezas em relação àquilo que mais interessaria discutir.
Além de que será difícil sustentar que essas certezas assentem nos cinco vectores enunciados, com a Educação e o Emprego à cabeça.
Na vertente do ensino, à pressa com que foi construído o Centro Educativo da Ribeira, sucedeu-se um tempo de descompressão que esperamos, estão 3 milhões orçamentados para escolas, leve nova aceleração já que é sempre tarde.
Esperamos também que o Multiusos arranque enfim, mas que se não construa nem um elefante branco, nem mais um inestético caixote condicionado a ter de ficar por baixo das varandas da Casa de Aurora, como parece ser o caso.
Que se tenha noção das proporções, que se não construa grande só porque Viana do Castelo o vai fazer, nem pequeno só porque, se o C.D.S. cá vier fazer um congresso, uma pequena sala chega para tão pouca gente.
É esta a grande obra do regime para esta legislatura, convenientemente programada no tempo. Mais duas estão lançadas, seja a Pista de Canoagem, Remo e Natação, seja o Centro de Estágios, mas estas convenhamos que a Câmara não acredita muito nelas.
Nós abstractamente apoiaremos estas obras porque acreditamos nelas. No concreto tudo depende da dimensão e do sentido de equilíbrio que venham a presidir à sua construção.
Há outras coisas de que se fala, umas que não saem de promessas, outras que são mal cumpridas. Os Trilhos à Beira Rio estão numa lástima, o Corredor Verde não é mais que uma polémica secreta, os Miradouros é vê-los. E valia a pena falar deles.
Se é para instalar muitos e por lá alguns equipamentos baratos já sabemos que a incivilidade vai destruir tudo. Mas um miradouro a sério pressuporia algum apoio e esse não se pode espalhar. Portanto mais vale menos e melhor. Se não gostam da Madalena escolham outro e invistam lá, que os turistas também não vão andar a saltar, feitos passarinhos, de um miradouro para outro, que têm mais que ver.
Fala-se de evitar a desertificação das zonas mais rurais do concelho e de apoiar a sobrevivência da própria agricultura. Questiono se toda a política urbanística da Câmara não vai em sentido contrário e nem sequer as tais infra-estruturas e equipamentos de utilização colectiva vejo, que as aldeias estão reduzidas a lares de idosos, dormitório dos que trabalham por esse mundo fora, seja em Portugal ou Espanha, repouso enclausurado de alguns endinheirados do Porto no fim-de-semana.
Já me contentava se deixassem só videiras para vinho de qualidade e no restante território visse vacas e cavalos em prados e bosques frondosos, que não nestas matas contínuas de pinheiros e eucaliptos que me ferem a vista com o seu verde triste, quase lúgubre.
O que penso ver é se há cavalos que justifiquem a sua feira, inovação que me parece vai ser mais um desfile de vaidades do que uma feira de cavalos a sério. De vaidades e presunções já estamos nós cheios.
Questiono também a validade e pergunto ainda qual será o financiamento previsto para o European Strategy Fórum, principescamente sediado em Ponte de Lima, mas de quem nem fumo se vê. É tal a sua imaterialidade que nem mesmo o recheio de patrocinadores, pessoas que decerto ocupam o seu tempo a pensar noutras coisas, não é de molde a, só por si, ser a garantia de que a Humanidade e em particular a Europa vai lucrar alguma coisa com isto. Nós nem na Internet vemos nada.
Desculpe-me algum Europeísta que cá possa haver que queira contribuir para pensar a Europa. Podemo-nos juntar aí em qualquer tasca, num miradouro a discutir a Europa. Mas acho que nós, a Assembleia, a Câmara, o nosso Orçamento não temos demais e a nossa obrigação é pensar Ponte de Lima.

Obs: Intervenção para o ponto b) da Ordem do Dia da sessão da Assembleia Municipal de Ponde de Lima de 15 de Dezembro de 2006.