sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Só nos restará a estética no domínio da intervenção cívica e política?

Não me é estranho aquilo que normalmente preocupa a população quanto à gestão autárquica: A eficiência, a transparência, o combate que em cada instituição se faça ou não à corrupção e ao compadrio, a defesa dos interesses dos cidadãos, o contributo que se dá ou não para a melhoria do clima social e cultural, muitas coisas mais.
São objectivos meritórios e para os atingir até nos sobra tanto empenho como nos faltam meios. Esperemos que a pressão da opinião pública faça com que os poderes políticos elaborem a regulamentação de órgãos capazes de exercer o poder com mais benefício para a população.
Há porém um objectivo para o qual podemos contribuir, aparentemente sem necessidade de grandes recursos materiais e funcionais antes só com o recurso à nossa clarividência e empenho: Ter uma Vila bela, agradável e útil em primeiro lugar para quem cá vive.
Quem diz Vila diria concelho mas deixemos isso para outra ocasião. A Câmara actual está apostada em investir tudo na Vila, se fora bem até aplaudiríamos, afinal todos se reconhecem nela, sejam de que aldeia forem. Se nos cabe lutar também por todos esses lugares lá iremos mais tarde.
Por cá o que verificamos é que o Sr. Presidente vai fazer as suas passeatas pelo estrangeiro e não perde tudo, traz sempre umas ideias, tenta introduzi-las na nossa pequenez e é o que se vê: Uma salsada intragável, indigestível.
Trouxe a ideia de um parque rodoviário que seria para a Ribeira mas parece tê-la abandonado. O que para aí se vê são ideias trazidas de França, da Áustria, da Espanha, até do Ribatejo. Somos um mosaico do mundo.
A revolução vai agora chegar ao Passeio Marginal e à Praça de Camões. Nada de planificado, tudo soluções avulsas. Um projecto que devia nascer do Rio para o casario resume-se a arranjar espaço para os feirantes, para que os gondomarenses lá passeiem umas tantas horas por semana. Se o comércio local sai prejudicado, se acaba o estacionamento e se dificulta a acessibilidade legítima, não interessa.
Não alimento preocupações de estética pura, que não tenham em conta o factor humano, a vivência própria do local. A apropriação do espaço sem que haja uma partilha e respeito pelo seu passado conduz a soluções impróprias. Quem alimenta esta estética imperial costuma ser egocêntrico e megalómano.
Corremos o risco de ficarmos como uma Vila sem alma e sem referências. Mais microondas e mercados ou coisas do género descaracterizarão a Vila. Não podemos andar atrás daquilo que os outros fazem, nem copiá-los por mais meritórios que sejam as suas obras.
Em vez daquele muro que a Câmara nos propõe para o Largo de Camões, façam lá uma escadaria para um acesso rápido e sem qualquer perigo ao terreal, se é que querem fazer deste o parque de estacionamento favorito desta Vila.
Mas para mim o estacionamento é na Vila, no meio das casas, não no terreal. O fundamentalismo anti-carro já se está a pagar caro em muitas terras e em Ponte de Lima não é excepção. Os carros não incomodam as pessoas, o que incomoda é o silêncio, o abandono, a desertificação a que a Vila está cada vez mais votada.A semana tem 148 horas e os forasteiros dos subúrbios do Porto só cá passarão umas quatro. Não é dar-lhes espaço que me preocupa. Aliás cada vez esta saloiada domingueira mais irrita os limianos, menos parece irritar os membros da Câmara que cá não passam qualquer fim-de-semana
.
Obs: Intervenção para o período de Antes da Ordem do Dia da sessão da Assembleia Municipal de Ponte de Lima de 28 de Setembro de 2007.