sexta-feira, 27 de abril de 2007

Que turismo, que gastronomia, que cultura nós queremos?

A Câmara Municipal de Ponte de Lima diz basear a sua estratégia turístico-promocional nos “elevados índices de preservação ambiental, na beleza das paisagens e na qualidade dos seus espaços públicos” e tem por objectivo a fixação da população e captação de outros investimentos.
Na verdade a paisagem é uma dádiva mas está pessimamente preservada. Os espaços públicos estão ao nível da grande maioria daqueles que assiduamente nos visitam e a que a Câmara grotescamente arremessou o já célebre “vá-se embora”.
Os valores culturais somos nós que lhes podemos dar seguimento mas não podemos ficar pelas pedras nuas, pelo silêncio sepulcral, cortado apenas pelo som dos bombos, dos ranchos folclóricos ou duma exógena ópera.
A gastronomia não se pode cingir ao arroz de sarrabulho de má qualidade, feito com sangue “espanhol”, salvo seja, e carne apocilgada. Não se pode fazer dum prato tão adulterado um emblema do concelho.
Ou se caminha no sentido de criar uma linha de produção e transformação com produtos genuínos e certificados desde a manjedoura até ao prato do cliente ou não vale a pena.
Claro que o cliente terá que pagar mais, mas também a Câmara se livrará mais depressa de quem, não tendo gosto para comer bem, dificilmente o terá para a preservação ambiental. Mas todos os gostos se educam.
E não será com terapias de choque que se transforma pessoas de modo a que assumam comportamentos que não lhes estão arreigados. Mas até admito que a curto prazo a estratégia de chamar a televisão para ver um grande amontoado de lixo seja eficaz.
Muitas vezes vale mais uma imagem que mil palavras. Mas isto tinha que ser feito num domingo à tarde, porque nós cá não precisamos se espectáculos desses, precisamos de ter mais em atenção os deveres cívicos, mas isso a todos os níveis e em todos os domínios.
O Senhor Presidente prometeu numa recente entrevista ao Canal Porto ser mais interventivo nesta área mas para já não vemos procedimentos conformes a essa intenção.
Mas, falando de produtos turísticos, entendo que à Câmara, já a principal proprietária e gestora de empreendimentos turísticos deste concelho, não deveria encaminhar a promoção de Ponte de Lima só para as áreas em que tem interesses directos.
A iniciativa privada local, nacional ou porque não, internacional, desde que respeite as nossas particularidades, deveria ser incentivada a aproveitar outros domínios que não só o sarrabulho e os carrinhos a pedal.
¿Algum turismo de qualidade suportará o ambiente de desordem, muito mais foleiro que o dum arraial minhoto, porque não genuíno, que se vive num domingo em Ponte de Lima?
Também, contrariamente ao que se diz neste relatório, não está ainda a ser feito o “acolhimento de animais, retirando-os dos espaços públicos” e já agora continua a permitir-se que animais sem trela e açaime sejam passeados pela Vila impunemente.
Ainda não miramos a rede de miradouros, com equipamentos e acessos que os tornem atractivos.
Em termos culturais adulterou-se a Serrada da Velha, efeminou-se a Queima do Judas. Quando o poder mete a mão onde não deve, estraga sempre tudo. O que era genuíno torna-se um mostruário de vaidades balofas e um modo de vida de pessoas menos escrupulosas.
Infelizmente muitos de nós assumimos uma atitude miserabilista, que nada se faz sem subsídio e sem o assentimento da Câmara. Os testamentos populares que por toda a parte surgem deixam o da Câmara numa situação humilhante.
Podem crer que se ainda vão conseguindo fazer que as iludências aparudam os habitantes desta terra submissa, não ficarão na história a não ser por contribuírem para a degradação, para a adulteração dos mais lídimos valores limianos.
Obs. Intervenção para a línea b) do n.º 2 da Ordem do Dia da sessão da Assembleia Municipal de Ponde de Lima de 27 de Abril de 2007.