sábado, 15 de dezembro de 2007

Um plano e orçamento defensivos

O plano e o orçamento de 2008 inserem-se na política de continuidade, tudo dito como se lhe estivessem a atribuir uma virtude indiscutível. Nada mais longe da realidade. Pólos de desenvolvimento não se descortinam, mesmo a velha Vila está cada vez mais desertificada.
Já longe vão os tempos áureos em que Ponte de Lima, por obra e graça de uma pessoa, diga-se, de um queijo, nossa gloria mas que se amanteigou e fugiu entre os dedos, de uns piedosos votos dados de cristão para cristão, embora de diferente orientação politica, ocupava as primeiras imagens dos telejornais.
Mesmo a tradição já não é o que era, já não rende votos, que isto de saudosismos, de limianismos, de apelos a virtudes de resignação e subserviência, encontra cada vez menos eco, embora haja quem continue a ter a perspectiva para ele mesmo de viver no tempo presente e de querer fazer de Ponte e Lima um Jardim Botânico com alguma zoologia à mistura.
Seremos infelizmente o último concelho a mudar, a abandonar estereótipos arcaicos, frases feitas, linguagens balofas de quem não sabe olhar para além do seu umbigo, de quem do futuro não tem uma perspectiva integradora, mas sim isolacionista.
O concelho vai mais ou menos bem quando segue as políticas definidas a nível nacional, como é o caso do ensino, está na prática a corrigir algumas barbaridades que inscreveu na carta educativa, veja-se o centro educativo de Cepões, tão a propósito para pôr alguns presidentes de junta a fazer brilhar os seus dotes de persuasão, mas nitidamente um aborto efectivo que teve o destino apropriado.
A nível de escolas profissionais Ponte de Lima olhou só para si quando havia que olhar para o Vale do Lima, olhou para este quando se imponha que se olhasse para todo o Alto Minho, e agora que a Câmara reconhece esta necessidade tudo já recomenda que se olhe para Braga, para o Minho, para uma dimensão que nós não temos, nem no turismo, nem no ensino superior, nem nas escolas profissionais, nem em quase todos os domínios da intervenção humana a nível associativo e organizativo.
Onde a Câmara mais tem falhado é na política de desenvolvimento e emprego. O empresariado parece fugir de Ponte de Lima, talvez porque o seu Presidente sendo do C.D.S. às vezes parece do P.C.P.. A Câmara impõe demasiadas condições, e não estamos em condições de exigir nada. A não ser o ambiente, em tudo a Câmara deveria dar facilidades no uso da terra, sem o pagamento dos encargos de que não quer abdicar.
Onde a Câmara faz umas flores e ainda cá vai trazendo a televisão é nas feiras, feirinhas e feirões, festivais, festivalinhos e festivalões. Depois das práticas de duvidosa legalidade cometidas em 2007 ao financiar a Feira do Cavalo com verbas não orçamentadas, a Câmara resolveu instituir uma super comissão para tudo que é festa, ou coisa assim chamada.
A Comissão das Feiras Novas superiormente orientada pela cerveja portista, melhor fora chamar-se Comissão da Cerveja Sempre em Festa, passou a superintender em todas este tipo de realizações. Ponham-se à tabela que qualquer dia substitui a comissão da Boa Morte, do Socorro ou do Sr. da Saúde. E até Sto Ovídio não estará seguro.
As verbas a atribuir a esta Comissão deveriam estar descriminadas neste orçamento. Como o Sr. Presidente só mostrará as suas reais intenções com o orçamento rectificativo também ficamos à espera que nele nos mostre quais as transferências que pretendem realizar para que não nos fuja ao controle o dinheiro posto à disposição da Comissão Festivaleira, para que não haja um saco azul na Câmara.
Na realidade este orçamento não é mais do que o corrente e esperamos para saber para onde vão os 17 milhões que estão em caixa. De muito estamos à espera e pouco se antevê. As festas ainda são a única coisa que está a dar. Mas isso todos sabemos fazer com mais ou menos bombos, mais ou menos estúrdia, mais ou menos inovação.
A Câmara insiste em ir plantando projectos desgarrados nas margens do Lima, comprando quintas sem préstimo para usufruto da população. Esperamos que a construção de um verdadeiro açude lá para o Trovela, insuflável como já propusemos à semelhança do de Abrantes, permite começar a dar alguma dignidade aos Rio, às suas margens.
Sabemos da importância dos desportos náuticos de que Ponte de Lima já é e pode ser cada vez mais referência nacional. É altura de contrapor os desportos amadores aos profissionais que arrastam multidões como o futebol que gostaríamos de ver em Ponte de Lima mas cujo lugar é cada vez mais as grandes cidades com dimensão para criar assistências. Se houvesse rugby para veteranos ainda podia ser que lá fosse.
As dificuldades, as taxas que a Câmara fixa para a utilização dos seus equipamentos desportivos são um escândalo comparadas com as facilidades que está a dar a certas actividades mercenárias e exibicionistas.
Congratulamo-nos que o Estado vá enfim pagar o Centro Municipal de Protecção Civil, que inclui instalações para os Bombeiros, e que a Câmara avance sem temor e sem hesitação.
Obs. Intervenção para a alínea b) do n.º 2 – Período da Ordem do Dia da sessão da Assembleia Municipal de Ponde de Lima de 15 de Dezembro de 2007.